quarta-feira, 28 de setembro de 2016

IFRN: PROJETO FOTOGRÁFICO: O INVISÍVEL EM TODA PARTE - TRABALHO DE CAMPO

O IFRN Campus Lajes, através do Departamento de Artes Itaretama e do professor André, está trabalhando o Projeto O Invisível em Toda Parte. Trata-se de um projeto fotográfico focado nos aspectos culturais e geofísicos de Lajes e suas adjacências. Já foram visitadas as áreas: Santa Rosa, Recanto, Assentamento Caçador, Serra do Feiticeiro, Fazenda Araras, Barreiras, Santa Izabel, Bonfim, Arizona, Cruzeiro e,  Associação Santo Expedito. Faltando ainda Boa Vista, Firmamento e Três de Agosto e, ainda a zona urbana do município.

O levantamento fotográfico é uma parceria do IFRN / Professor André, com a Coordenação de Meio Ambiente de Lajes e Trilheiros da Caatinga, representados por Cícero Eleutério. O Projeto será exposto no IFRN e em partes da cidade como também na zona rural. No final dos trabalhos será lançado um livro com fotos e textos referentes ao local.
As fotos acima e abaixo são no Cânion de Santa Rosa, contendo pinturas rupestres nos paredões, geograficamente o local está em Cerro Corá, mas é muito visitado por lajenses devido a proximidade.
A foto acima retrata uma mina desativada no pé da Serra do Feiticeiro; abaixo vemos um pé de caraibeira/ipê amarelo na Associação Santo Expedito
A foto acima evidencia a Pedra do Arco na Fazenda Arizona; a foto abaixo foi feita na Fazenda Trapiá, pertencente ao senhor Otávio Eloy; A propriedade fica na metade do caminho entre Lajes e Cerro Corá, pertencendo geograficamente a segunda.
 A foto acima foi feita em recanto, também município de Cerro Corá mas habitado por muitos lajenses;a foto abaixo mostra os rejeitos da antiga extração de tungstênio no pé da Serra do Feiticeiro.
A foto acima mostra ao fundo a entrada de uma galeria desativada; a foto abaixo mostra um ritual religioso judaico/cristão/sertanejo: colocação de pedras em uma umburana. Ambas as fotos oram feitas na Serra do Feiticeiro.
 
A fotografia acima mostra ao fundo a Igreja do Bonfim. A construção dessa igreja é uma incógnita, uns afirmam ter sido construída por holandeses, outros por portugueses; sede da Fazenda Santa Izabel, Caiçara do Rio do Vento. Trata-se de caminho entre os municípios de Lajes e Caiçara pela BR 304, também é caminho para a Fazenda Bonfim em Lajes.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

DE VENTO E AREIA – Lembranças da minha infância na cidade de Lajes – RN. Teresa Neumann Christensen


Teresa Neumann Christensen

Na cidade de Lajes, onde eu nasci, as noites são sempre agradáveis, amenizadas pelo sopro constante dos ventos alísios. Ao por do sol, o calor perde a feição de fornalha e a sombra da tarde recobre a cidade com seu manto suave; é à hora em que chega uma brisa agradável e derrama sobre essa atmosfera incandescente, um sopro de bem-estar. É também a hora de por as cadeiras nas calçadas, bater um papo com os vizinhos, saber das novidades da política e por que não da vida alheia? 
Quando começava a escurecer o sino da igreja matriz tocava as seis badaladas. Era à hora do Ângelus ou da Ave Maria, todos se recolhiam e faziam uma oração. 

O céu ficava cada vez mais escuro e as primeiras estrelas iam surgindo, aqui uma, outra lá, e aos poucos apareciam milhões de estrelas. Sentávamos na calçada e ficávamos admirando a Via Láctea, as Três Marias, as Sete Estrelas e imaginávamos como aquilo podia ter sido feito. Ah, que mistério! 
Os mais velhos diziam que não devíamos apontar para as estrelas, pois apareciam verrugas nas pontas dos dedos,porque assim dizia a crença popular.Mais tarde, os jovens sentavam nos bancos da Pracinha, conversavam com os amigos e conhecidos, ficavam sabendo das novidades ou, caminhavam ouvindo música através do alto-falante da União Caixeiral Lajes o Clube da cidade, ou, os que gostavam, iam para lá dançar ou jogar ping-pong (tênis de mesa). Enfim, essa era a rotina da vida numa pequena cidade. Às nove horas, as crianças se recolhiam e uma rede amiga nos aguardava para uma boa noite de sono.

Ao relembrar a minha cidade natal, tendo apenas a memória como passaporte, é impossível não lembrar as serenatas, antigo costume herdado dos nossos colonizadores portugueses e que perdurou por muito, muito tempo. Na nossa rua, moravam algumas moças e geralmente, nas noites de lua cheia, apareciam os seresteiros. Era muito bonito ouvir o som do violão misturado ao som vento e a voz de algum apaixonado cantando: 
“Oh lua branca,
“De fulgores e de encanto...”

Às vezes, algum pai ou irmão ficava irritado e gritava: 
- Vão dormir bando de vagabundos... 
Ou então: 
- Vou jogar um penico cheio... Em vocês. 
Os apaixonados saiam correndo para se livrarem de tão mal-cheiroso líquido, acabando, assim, de forma melancólica o encanto da seresta e os suspiros das garotas. 

Era também um velho costume contar histórias de assombração. Não faltavam histórias de terror: eram histórias de lobisomem, de papa-figo, figuras horrendas que saiam à noite em busca de algum incauto para chupar-lhe o sangue; ou, ainda, sobre as assombrações que apareciam na serra do Feiticeiro, no serrote do Pai João. Eram as almas penadas dos escravos que lá foram castigados. A mais lúgubre, a que era realmente apavorante era a de um soldado da polícia que tinha sido decapitado num baile, e, inconformado, vagava pelas ruas em busca da cabeça! 
Assim, depois que o sol se punha ninguém tinha coragem de se aventurar sozinho por aqueles rincões. Que tal encontrar o soldado? 

Eram também famosas as histórias das botijas, (panelas cheias de dinheiro ou de moedas de ouro e prata) que muitos tinham encontrado. Diziam que tudo isso demandava de uma enorme encenação: A “alma do outro mundo” escolhia alguém a quem queria dar o seu tesouro enterrado para poder ter sossego na eternidade . Então, começava a assediar o vivente. Geralmente, a botija se encontrava no pé de uma árvore ou, num lugar especial, como um serro ou mesmo num quintal de uma casa. O aviso era dado através de sonhos. Porém, contam que quando a pessoa chegava ao local indicado aconteciam todo tipo de gemidos, ventos, gritos e etc. Se o escolhido tinha coragem, ficava e cavava até encontrar. Se não, voltava para casa em desabalada carreira, e nunca mais queria falar no assunto. Porém, ninguém conhecia nenhum sortudo, apenas, ouvia-se falar. Esse assunto era segredo. Não se comentava. 

Essas histórias eram sempre contadas à noite, pois tudo, à noite, é diferente. Assim, mergulhados numa consciência noturna, percebemos com maior rapidez cada estalido ou ruído. Qualquer coisa toma uma dimensão muito maior. É a noite que ficamos mais próximos de nós mesmos, de pensamentos que passam despercebidos durante o dia. Por essa razão, acreditamos que a noite é a mãe de todos os medos. 

Essas e muitas outras lembranças fazem parte da minha infância e estão guardadas num canto especial do meu coração

Nota de Cícero Lajes - Teresa Christensen é uma lajense que saiu de sua terra natal ainda adolescente e construiu uma carreira de sucesso em Santa Rosa RS. Professora universitária, com 16 livros publicados na linha da História Horal, exerceu cargos importantes na Educação do Rio Grande do Sul. Teresa é filha de Honório Antunes de Souza e Maria Procópio de Souza, e é irmã de Arilda Antunes, Edna Antunes, Francisco Hélio de Souza, Maria Pereira (irmã de criação), Jório e Antônio Procópio.

MEMÓRIAS DE LAJES: AS CAMPANHAS POLÍTICAS - TERESA CHRISTENSEN

Teresa Christensen

As eleições de 2016 estão se aproximando e então comecei a relembrar as eleições ocorridas na minha infância e adolescência. Eram muito diferentes das que hoje se realizam! Assim, é impossível esquecê-las.

Eram grandes festas “cívicas” com tiros, facadas, surras e todo tipo de tramóias para ganhar as eleições. As campanhas mais violentas eram as de Prefeito Municipal, pois os candidatos eram pessoas do lugar ligadas aos clãs locais. Passávamos o ano todo fazendo política e, à medida que a eleição ia se aproximando, o clima ficava cada vez mais tenso.As vezes nossos correligionários chegavam a nossa casa muito machucados, por que as brigas eram grandes. Uma noite, o cabra Chico Leandro, chegou com os olhos roxos de tanta pancada no rosto, e aí, alguém perguntou, compadre,que te botou estes “Ray ban”? Ele prontamente respondeu: foi o FDP do irmão do prefeito. Vou acabar com a raça dele. E por aí ia a coisa toda. Risos, piadas, humor e ameaças de morte...

Os Coronéis, herança da República Velha, apesar de terem perdido um pouco o seu prestigio e do seu poder, continuavam a manobrar o eleitorado, num vale-tudo de favores, compra de votos e de todo tipo de fraude. Mesmo com 15 anos da ditadura Vargas, sem ocorrer eleições, quando da redemocratização em 1945 e a volta dos Partidos Políticos, as coisas voltaram a ser como antes. A política partidária era o grande motivo da existência de muita gente. Não era por motivos ideológicos, mas, por todo tipo de interesses pessoais.

Os principais partidos eram a UDN – União Democrática Nacional , o PSD _ Partido Socialista Democrático e o PTB- Partido Trabalhista Brasileiro. Então, a disputa era muito grande. Grandes comícios aconteciam nas proximidades da data do pleito. As ruas ficavam inundadas de propagandas. Além disso, tinha a “Ala Moça” com uniformes e tudo mais, formada pelos jovens cabos eleitorais. Músicas, refrães, carros com alto-falantes passavam o dia inteiro rodando pela cidade. Os discursos e os ataques pessoais eram violentos.

Quando nossos chefes políticos vinham a Lajes, o banquete era sempre em nossa casa. Cheia de gente, depois do almoço começavam os discursos e as promessas que geralmente nunca eram cumpridas. Lembro-me do caso da construção da Maternidade. A obra começou, porém demorou tanto a ficar pronta que a população passou a chamá-la de “Eternidade”.
A campanha política era uma festa interminável. Não existiam ônibus, então as carreatas como são conhecidas hoje, eram feitas em cima da carroceria de caminhões, que saiam pelas ruas da cidade e para as localidades vizinhas, cheios de eleitores cantando e... Bebendo cachaça. Às vezes caia um ou outro lá de cima, mas, ficava tudo bem. Dizem que o Anjo da Guarda põe a mão debaixo de criança e de bêbado, por isso, não se machucam.

O dia da eleição, então, era muito emocionante. O movimento começava nas primeiras horas da madrugada com a busca dos nossos eleitores na zona rural. Estes, com suas melhores roupas, ao chegarem, ficavam em frente à nossa casa, e, quando abriam as seções eleitorais, já estava tudo organizado: um grupo de jovens se responsabilizava em encaminhá-los, considerando que a maioria (a grande maioria) era analfabeta, apenas assinavam o nome. Nesse meio tempo, era preciso cuidar para que os adversários não cooptassem nossos eleitores e trocassem a cédula eleitoral que já estava pronta. Esse era o momento de grandes enfrentamentos. Então, para evitar o pior, vinha a Força Federal ( um destacamento do Exército Nacional) e ficava de prontidão por toda a cidade, principalmente junto às seções eleitorais, onde aconteciam as brigas e também para dar segurança às urnas para que não fossem violadas.

Antes da apuração, a boataria era grande. Aconteceu isso, aconteceu aquilo! Lembro-me da eleição em que meu tio foi candidato a prefeito. A votação já estava encerrada e a casa cheia de gente, aí chegou um amigo e disse:

- Estão dizendo que o candidato adversário engoliu a chapa (dentadura postiça) ;

Então, alguém prontamente respondeu:

- Se engoliu, já botou, porque agorinha mesmo estava com ela...

Foi uma risada geral antecipando a vitória que seria confirmada às duas horas da madrugada. E dê-lhe festa e foguetões. Francisco de Oliveira Cabral, nosso tio, foi o prefeito durante 15 anos, no tempo do Estado Novo. Era um jovem de 21 anos. Posteriormente foi eleito pelo voto popular. Assim, rivalizando com o nosso prefeito Alcides Vicini, ele também foi prefeito durante 20 anos. 
Devo confessar que muitas das minhas lembranças se toldaram, e ao evocá-las, viraram pó como um cristal irremediavelmente quebrado. Porém, não me esqueço do sol queimando; a claridade das ruas; as pessoas correndo; as brigas; a disputa ferrenha pelo poder; a emoção da abertura das urnas, e depois, se Deus ajudasse , a vitória e a festa da posse.

Nota de Cícero Lajes - Teresa Christensen é uma lajense que saiu de sua terra natal ainda adolescente e construiu uma carreira de sucesso em Santa Rosa RS. Professora universitária, com 16 livros publicados na linha da História Horal, exerceu cargos importantes na Educação do Rio Grande do Sul. Teresa é filha de Honório Antunes de Souza e Maria Procópio de Souza, e é irmã de Arilda Antunes, Edna Antunes, Francisco Hélio de Souza, Maria Pereira (irmã de criação), Jório e Antônio Procópio.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ESTUDANTES DE TURISMO DA UERN, NO CABUGI - 25/09/2016

Nesse domingo, 25/09/2016, um grupo de estudantes do curso de Turismo da UERN Natal, estiveram no Pico do Cabugi colhendo dados para projeto de pesquisa a respeito da potencialidade turística do mesmo. Eram ao todo 7 estudantes, guiados pelo guia local Cícero.

Aviso - eu (Cícero), estou fazendo a trilha apenas até à metade devido o risco das rochas rolarem, por subirem muitas pessoas sem guias acabam por alterarem significativamente o trajeto das rochas; outro motivo é pela preservação do próprio formato do Pico. Mesmo assim a caminhada dar para suar a camisa, gastar bastante calorias e contemplar uma bela vista.