segunda-feira, 8 de novembro de 2021

DONA LILI ALBUQUERQUE: SEU LEGADO PARA A CIDADE DE LAJES

Por: João Batista Cortez

“Lajes de Ricas histórias, secas e quentes”. Esse é o título de um vídeo que apresenta a cidade de Lajes e suas pessoas.

Nessa terra seca do sertão do Cabugi, surgiu uma figura humana que se destacou, tanto na cidade, quanto nas circunvizinhanças, pelo seu expressivo trabalho dedicado à educação e à cultura. Estamos nos referindo à Dona Lili, um nome que se destacou em Lajes por suas inúmeras atividades vinculadas às Escolas Pedro II e, posteriormente, ao Instituto Pio X, pertencentes ao Estado e à Paróquia local.

Além de ensinar matemática, voltou-se também para a construção e reconstrução da vida sócio cultural de Lajes, de diferentes formas, contribuindo, em especial, para o processo de desenvolvimento intelectual e cultural, principalmente dos seus alunos.

Lembro alguns dos dramas teatrais que costumava apresentar para a escola e para as famílias dos alunos. Às vezes, eram peças contendo elementos com uma certa dose de sensibilidade, o que levava as pessoas a se emocionarem com o seu conteúdo.

Ela não chegou a cursar o ensino universitário. No entanto, detinha um conhecimento diferenciado. Teria conseguido cursar uma academia, mas, acredito que o seu compromisso com a sociedade de Lajes falou mais alto.

No período em que viveu nesse lugar tão querido, as suas energias foram todas canalizadas para o trabalho intelectual, contribuindo para a evolução cognitiva de seus discentes.

Em Lajes, e, nas demais cidades nordestinas, as pessoas se dedicavam com afinco às questões sociais ligadas à terra natal, permanecendo no mesmo lugar, sem alçar voos mais altos. Era um compromisso com a sua terra, com a sua gente. Nada os tiraria dali, daquele lugar muito amado, para desenvolver um trabalho de tanta importância.

Talvez fosse um tipo de amor guardado no âmago do seu ser. A vida em Lajes parecia sempre lhe dizer: Aqui é a sua terra, “aqui é o seu lugar”. Aqui você plantará sementes que darão frutos à sua própria terra e demais regiões.

Um fato inusitado ocorria com frequência. Ela recebia os seus alunos para aula de reforço em sua própria casa, sem nenhum custo para eles.

Hoje, revivendo essa história, vejo o quanto o mundo capitalista, cruelmente, foi acabando com essas atitudes tão naturais e espontâneas. “Ele é o grande responsável pela desigualdade social e pela sua busca incessante pelo lucro e acumulação da riqueza”.

A vida no campo e nas pequenas cidades, no passado, mantinham essas características de reciprocidade, de ajuda ao outro sem nenhum interesse financeiro.

Peter L. Berger e Thomas Luckmann (1966) no livro intitulado A Construção Social da Realidade, através do tema da Sociologia do Conhecimento “nos mostra em detalhes o cotidiano, pelo qual o indivíduo define a sociedade e percebe as ações humanas e interage com as pessoas e constrói o mundo social “.

Acredito que esse capitalismo selvagem e excludente não tenha chegado a macular as ideias responsáveis e honestas próprias da sua personalidade.

Dona Lili, provavelmente, não tenha se auto analisado para perceber o quanto contribuiu para o crescimento cognitivo dos que conviviam com ela, na cidade de Lajes do Cabugi, sem, contudo, absorver essas mazelas tão presentes no cotidiano de todos.

São reminiscências do passado que vivi quando ainda criança. Lembro-me de vê-la passar para a casa dos seus pais, na época um pouco afastada da cidade. Um lugar agradável e mais tranquilo. Em frente à casa de seus pais, diariamente o trem passava com passageiros, que acenavam para os que estavam a comtemplar a sua chegada vindo de Natal.

Nesse lugar tão aprazível e silencioso, ela e sua família tinham o privilégio de ver o sol se pondo por trás das serras e serrotes, dando lugar à bela lua que chegava e iluminava, com seus raios prateados, a noite que começava a surgir.

Aqui, escrevendo este texto em homenagem à dona Lili, fico pensando o quanto de beleza natural tínhamos para apreciar. Certamente, eram elas que davam mais inteligência, mais sabedoria e sensibilidade para a sua produção intelectual.

Tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas da sua família. E foi a sobrinha Maria Aparecida Albuquerque Rocha (Cida), que, de forma muita carinhosa, relatou fatos vividos e convividos com a sua tia.

“Minha tia era uma pessoa diferenciada, possuidora de uma grande inteligência”;
“Extremamente habilidosa e criativa no que fazia, organizava desfile de bonecas e, também, quadrilhas juninas”;
“ Se passasse próximo a uma tela ou um quadro, desenhava, principalmente fisionomia”;
“ Minha tia foi uma empreendedora da cultura”;
“ Certa vez ouviu uma história contada por um senhor chamado de José da Penha sobre fantasma. Ao chegar em casa, logo reproduziu, escrevendo uma peça com estórias fantasmagóricas, vindo, posteriormente, a ser transmita por uma emissora de rádio”;
“Ao passar por alguma vitrine, quando estava na capital do Estado, ao ver um manequim com um modelo que lhe agravava, logo olhava com atenção e já em casa reproduzia no mesmo formato”.

Seu nome completo: Maria das Dores Albuquerque, mais conhecido por Lili. Nascida em Lajes, na segunda década do Século XX, enquanto aqui viveu, contribuiu, de forma ímpar, para o desenvolvimento da educação e da cultura da cidade, trabalhando em duas escolas, uma de cada vez.

Na sua juventude , a sua madrinha, dona Luiza Lira, vindo do Pará para morar em Lajes, tornou-se hóspede dos pais de dona Lili. Segundo Cida, era muito amiga de Auta de Sousa e Henrique Castriciano, tendo conseguido, na época, uma bolsa de estudo para a sua afilhada estudar na Escola Doméstica de Natal.

No entanto, detentora de um espírito forte e trabalhador, optou por voltar para a sua terra natal após concluir a quinta série primária. Após retornar, se dedicou com afinco às várias atividades ligadas à educação.

Sempre foi reconhecida na cidade como uma mulher inteligente e de um saber que se sobressaía dos demais, mas mantinha, na sua personalidade, características simples, sem demonstrar qualquer exibicionismo.

Através desse simples artigo, fica registrada a gratidão de todos os lajenses pelos seus feitos em prol da cidade e dos seus habitantes. E fica também a certeza, em todos nós, de que o seu trabalho em Lajes foi uma semente plantada que floresce até hoje, a cada dia.

Obrigado dona Lili

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