segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

DONA PLÁCIDA FRAGOSO MARTINS: um nome expressivo na Educação de Lajes

Por: João Batista Cortez

Tantos fatos e registros importantes na sua história, e, mesmo assim, a cidade de Lajes os mantém guardados. Temos a história da ferrovia, com a chegada do trem no ano 1914; temos o Cabugi, que, apesar de não pertencer a Lajes, oficialmente, por questões políticas, na verdade é um elemento do relevo geográfico do nosso Município. Lajes de muitas outras histórias, como a da Serra do Feiticeiro, e de pessoas que marcaram época na organização e desenvolvimento social e econômico da cidade, e na educação. Lajes, a cidade de um povo acolhedor, que reconhece o valor daqueles que contribuíram para o seu crescimento e desenvolvimento das pessoas, embora, muitas vezes, não registre esse reconhecimento por meio da linguagem escrita ou de outras formas.

E é por isso que trago aqui um nome por demais importante na história da educação da então pequenina cidade de Lajes. Refiro-me à professora Maria Plácida Fragoso Martins, que atuou no então Grupo Escolar Pedro II, inaugurado em 1927, o primeiro do Município de Lajes, depois transformado em Escola Estadual. Originalmente, era um espaço pequeno, com apenas três salas de aula e uma Diretoria. Nesse espaço pequeno, mas acolhedor, dona Plácida foi docente, e, depois, pela competência e determinação que demonstrou, exerceu a função de Diretora. É, até hoje, uma pessoa muito respeitada em Lajes e no mundo da educação.

Nesse período em que a professora Plácida assumiu a direção do Grupo Escolar, eu frequentava entre o 1º e o 2º ano do então curso primário, e pude ver a sua postura rígida. Ela falava alto, imprimindo autoridade e muito respeito. Todos nós a temíamos. Ninguém queria ser chamado à Diretoria para tratar de problemas de comportamento ou baixo rendimento escolar.

Com o passar do tempo, em 1951, a pequenina cidade foi beneficiada com a criação da Escola Normal Regional de Lajes, uma iniciativa de dona Plácida, em conjunto com o professor Carlos Borges, à época Diretor do Departamento de Educação do Rio Grande do Norte, vinculado à Secretaria de Educação do Estado. Nessa Escola, ela assumiu as disciplinas: Prática de Ensino, Didática, Fundamentos da Educação e Administração Escolar.

Certamente foram muitas as dificuldades enfrentadas: desde espaço físico para um melhor funcionamento das atividades docentes, até a escassez de professores qualificados. Era muito comum as pessoas com graduação assumirem várias disciplinas, como forma de assegurar a continuidade da Escola. Geralmente o pessoal com nível superior, autoridades e profissionais da cidade (Juiz, Pároco local, médico, dentista) assumiam disciplinas como Português, História, Ciências, entre outras.
A professora Plácida nasceu na cidade de Assu, no ano de 1913, filha de Manuel Fragoso Albuquerque e Francilina Fragoso de Albuquerque. Residiu em Angicos e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Com o falecimento do seu pai veio morar em São Romão, hoje Fernando Pedrosa, onde exerceu a docência numa escola Isolada.

De acordo com informações de sua filha, Conceição Martins, em 1937 dona Plácida conheceu aquele com quem viria a se casar, o viúvo João Militão Martins, com seis filhos. Ele residia em Angicos e sobrevivia como mascate, ou seja, como vendedor de mercadorias nas feiras livres. Porém, após se unirem em matrimônio, Maria Plácida e João Militão passaram a morar em Lajes. Era o ano de 1938. Lajes só ganhou com a chegada do casal.

Enquanto viveu, nossa dedicada professora contribuiu de várias maneiras para o crescimento da cidade, tanto na área educacional, como nos aspectos social e cultural. A sua trajetória inclui também atividades na Legião Brasileira de Assistência Social.

Ainda criança, lembro a criação do Grupo Escolar Maria Plácida, uma justa homenagem prestada por Lajes pelo muito que essa professora fez. Contudo, o Grupo Escolar não existe mais, dando lugar a uma quadra de esportes. Lamento profundamente o ocorrido. E pergunto às autoridades municipais o que farão para reerguer o Grupo, que, hoje, estaria organizado como Escola, possibilitando o acesso de inúmeras crianças ao ensino sistematizado. Ou, que outra alternativa será adotada para expressar a gratidão e reconhecimento da cidade pelo que nossa dedicada professora fez.

Impossível conceber Lajes sem conter o nome de Maria Plácida nos arquivos da cidade. Vamos todos juntos rever essa arbitrariedade, criando um espaço para que pessoas sejam homenageadas pelo que fizeram em função da cidade e da sua gente.

Tanta dedicação à causa educacional – exigindo um esforço sobrenatural, e sem se preocupar consigo, principalmente com a sua saúde – resultou na morte de dona Plácida. É que foi acometida da gripe asiática, vindo a falecer no Hospital Tigipio em Recife, e sepultada na cidade de Lajes, terra que tanto amava. Mas a nossa gratidão é imensa, na medida em que reconhecemos o legado deixado por dona Plácida. A cidade de Lajes lamentou a sua partida para outra dimensão, porém, expressa hoje, após transcorridos vários anos de sua morte, o reconhecimento pelo que fez pela educação e pela cultura. Se Lajes hoje contempla muitas atividades que visam ao desenvolvimento intelectual de pessoas, é por que, no passado, essas figuras humanas trabalharam com afinco e determinação para que se desse continuidade às ações que iniciaram. Esperamos, pelo menos, que essas iniciativas permaneçam cristalizadas nas mentes de todos nós e sirvam de inspiração.

Queremos, nesse momento, agradecer, de coração, as contribuições e informações que nos foram cedidas pela professora Vitória Maria Avelino da Silva Paiva, por Karina Maria da Silva Souza e pela filha de dona Plácida, todas essenciais à composição do presente texto.

2 comentários:

  1. Belo texto.
    Parabéns!!
    Minha avó, não tive o prazer da sua convivência.
    Que Deus ilumine sua caminhada.

    ResponderExcluir