Uma das secas mais severas desde a ocupação do sertão nordestino ainda persiste em janeiro de 2017, já estamos no 6º ano. Este mês estive no Assentamento Santa Maria II em Santana do Matos e acompanhei de perto a convivência do homem do campo para enfrentar a seca e salvar seus rebanhos, em especial o gado.
Logo cedo meus tios e primos saiam de casa para queimar o xique xique, alguns voltavam ao meio dia e retornavam para a queima logo após o almoço, outros seguiam na construção de cisternas de enxurradas e calçadões... Um dos resultados da seca é o emagrecimento (em muitos casos desnutrição) do gado e consequentemente perda de valor. Nesse período de 20 dias, 2 vacas, uma garrota e um garrote caíram, dos quais uma vaca morreu.
Com as poucas chuvas que caíram não há mais água nos açudes e barreiros, a exceção são os caçimbões de manilhas e poços artesianos. A solução encontrada foi soltar parte dos animais nas serras onde ainda há folhas; outra alternativa é a queima diária do xique xique; para os animais mais fracos um complemento alimentar de piolho de algodão e pasta; a construção de um tanque onde acumula-se água de um poço para que os animais possam beber;
O nome dessa vaca é Morena, quando cheguei ela era espantada com gente, depois de 3 dias estava pegando casca de frutas em minha mão. Note na foto abaixo o olhar triste.
Acima, meu tio Pedro na queima de xique xique para duas vacas, uma novilha e dois bezerros; abaixo, a vaca Coração lambendo sua filha.
Acima, uma girolanda, mistura das raças Holandesa com Gir, na tentativa de produzir um animal leiteiro mais rústico.
Apesar da seca, é grande o número de parições, estão nascendo muitas fêmeas.
Alguns animais são verdadeiras carcaças ambulantes, outros já não têm mais força para se levantar, sobrevivem em palanques ou agonizam até à morte. Alguns como a vaca da foto, fazem um percurso de 6 a 8 km até o topo das serras em busca de alguma folha que caiu e ainda não foi comida, outros são alimentados diariamente pelo xique xique, que não nutre o animal, apenas o mantém vivo à espera da próxima estação chuvosa. O pouco verde que se observa nas fotos são de algarobas que muito mal deram bagens.
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