Argemiro Lima / NJ
Ideia é recuperar trilhos para tornar possível o trajeto idealizado entre a Rua Chile, passando pelo Porto de Natal, até chegar ao IFRN Cidade Alta
A extensão do IFRN/Campus Cidade Alta, que passará a funcionar também no bairro das Rocas, a partir de janeiro de 2016, ocupando o antigo prédio da Rede Ferroviária Federal S.A. (Refesa), pode ganhar um ótimo atrativo ainda no primeiro semestre do ano que vem: um passeio histórico com uma das três locomotivas de ferro que agora fazem parte do acervo do novo campus.
O sonho é alimentado pelo Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Cultural do RN, o IAPHACC, em parceria com o próprio IFRN/Cidade Alta. Por enquanto, a tentativa é sensibilizar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU/RN) para que recupere parte do trilho necessário para o trajeto idealizado entre a Rua Chile, passando pelo Porto de Natal, até chegar ao novo campus.
“É uma iniciativa de Ricardo Cobra, presidente do IAPHACC, mas nós também apostamos na ideia porque todo o percurso seria acompanhado pelos nossos alunos do curso de Guia de Turismo”, comenta Lerson Maia, diretor do IFRN Cidade Alta, reconhecendo ainda outros desafios pela frente, como o contato com a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern).
“O percurso que se pensa em fazer, saindo da própria CBTU até o Campus, hoje em dia passa também por um trecho do porto, principalmente depois das ampliações. Então é um projeto que ainda está caminhando”, complementa sobre a proposta apresentada pela primeira vez à sociedade há algumas semanas durante o Seminário “Ribeira em Foco”, realizado pela Prefeitura de Natal.
Acionada pela reportagem, a CBTU informou que até então desconhece o projeto de passeio turístico com a locomotiva, e que ainda não havia sido notificada oficialmente sobre o assunto. Até agora o órgão contribuiu com a doação de parte de seu acervo para o Museu do Trem, que também será instalado no novo campus, mais especificamente na Rotunda do prédio, incluindo a doação de trilhos para restaurar parte das vias que existem originalmente no local.
A expectativa é de que a obra de extensão do campus fique pronta já com o Museu do Trem também em funcionamento. O NOVO Jornal conversou com Lerson Maia enquanto as obras ocorriam no local e constatou que a reforma do prédio segue em ritmo acelerado, obedecendo as normas exigidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/RN).
O grande atrativo do prédio é justamente uma construção rara hoje em dia, conhecida como Rotunda, ou seja, o lugar que abriga oficinas onde eram consertados antigamente os vagões e locomotivas. A estrutura possui uma rótula responsável por direcionar os vagões para todas as oficinas existentes, e hoje se transforma em um cartão postal para o novo campus.
O Museu do Trem, articulado pelo IAPHACC, deverá ocupar cerca de três destas antigas oficinas. As demais serão divididas entre uma biblioteca e um auditório com capacidade para 180 pessoas.
Museu já conta com três locomotivas
O novo campus do IFRN/Cidade Alta já conta com três locomotivas de ferro. Duas delas estão posicionadas no centro do pátio, na Rotunda, em frente às antigas oficinas, e vieram de Ceará Mirim, pertencentes a uma antiga usina de cana de açúcar hoje desativada.
“Acreditamos que elas tenham uns 80 anos e é justamente uma delas que vamos usar para os passeios. Hoje em dia já existe tecnologia eficiente para colocar gás nessas locomotivas que funcionam originalmente com lenha”, explica Lerson.
No entanto, a grande estrela do prédio é a histórica locomotiva Catita nº 3, fabricada na Inglaterra em 1902, mas que só chegou ao Rio Grande do Norte em 1906. Por enquanto ela está coberta dos olhares mais curiosos, seguindo todas as recomendações necessárias de preservação, um pouco afastada de suas companheiras, ocupando uma das antigas oficinas.
O carinho com a locomotiva é justificável, já que ela foi a responsável por inaugurar a Ponte de Ferro de Igapó, em 1916. Na ocasião estavam presentes personalidades importantes da história potiguar, como o então governador Joaquim Ferreira Chaves e seu vice Henrique Castriciano, o médico Januário Cicco, o historiador Luís da Câmara Cascudo ainda criança, acompanhado do pai, Coronel Cascudo, os futuros governadores Juvenal Lamartine e José Augusto, o jornalista Elói de Souza, entre outros.
Décadas depois, em 1970, a Maria Fumaça foi utilizada novamente, desta vez, para inaugurar a primeira ponte de concreto de Natal, no entanto, em 1975, ela foi parar em Recife utilizada na ornamentação do Museu do Trem da capital pernambucana.
A Catita então passou 39 anos em Recife até retornar para Natal em outubro do ano passado, sendo recebida em grande estilo a partir de Parnamirim, onde foi cortejada até a Rotunda.
O novo campus do IFRN se insere, portanto, no bairro das Rocas onde está a Vila dos Ferroviários, com tantos senhores ou parente deles, que viveram esta etapa importante da história. “Não vamos limitar o Museu do Trem a apenas as três oficinas da rotunda. A intenção é que ele esteja espalhado em todo o prédio, queremos preservar essa história”, reforça.
O diretor do campus conta ainda que a lanchonete, por exemplo, utilizará as mesmas mesas nas quais os ferroviários faziam suas refeições, e que outros setores do prédio também vão contar com peças coletadas pelo IAPHACC ao longo dos últimos onze anos.
“Tem muitas cidades do interior por onde os trens passavam que também doaram peças para o museu. O acervo já recebeu objetos vindos também do Ceará e de Campina Grande. Todo tipo de coisa, como cronômetro, capacete e fardas de antigamente”, complementa.
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