Geraldo Mata de Lima
Eu digo e não é mentira
Nasceu lá no pé da serra
De facheiro e macambira
Oiticica mapirunga
Mororó e sucupira.
Logo na subida tem
Pião, velame e pereiro
Depois tem a tiririca
Amorosa e marmeleiro
E lá na margem da fonte
Muitos pés de espinheiro.
Unha de gato, favela
Canafista e catingueira
Pau de ferro e sombra de onça
Mulungu e sarjadeira
Pau de leite e imburana
Barriguda e faveleira.
Aroeira não tem mais
Se tem é muito fininha
Porque as grossas cortaram
E levaram pra fazer linhas
Na época das construções
Daquelas casas vizinhas.
Jurema preta tem muito
Jurema branca tem menos
Tem angico e maniçoba
Que é nocivo veneno
O animal que comer dele
Morre berrando e gemendo.
Tem o cabelo de negro
Por carrasco é conhecido
Caçador pra enfrentá-lo
Precisa estar bem vestido
Se não for roupa de couro.
Acaba nu ou despido.
Tem o cravo de urubu
Tem louco e tem pega pega
Caçador passa por ele
Na sua roupa ele pega
Ele procura tirá-lo
Mas ele não desaprega.
Vou falar sobre o cipó
Começa pelo bugi
Cipó brocha, amarra pé
Que tem lá no Potengi
Toda essa vegetação.
Se encontra no Cabugi.
Lá tem o capim navalha
Chamado de manibú
Capim rabo de raposa
Aonde se encontra o nambú
Tem um d canela grossa
Que se chama capim bambu.
Também tem capim mimoso
Miã e pé de galinha
Panasco do amarelo
Desses da folha fininha
Que nasce nos tabuleiros
De Gavião pra Laginha.
Erva rasteira tem muitos
Ervanço e quebra panela
Malva arisca e jitirana
Dessa da folha amarela
E um capim amargoso
Chamado capim canela.
Lá tem o gato vermelho
Mourisco e maracajá
Tem raposa e guaxinim
Tatu e tamanduá
Timbú e tijuaçú
E tem furão e gambá.
Lá tem cobra de veado
Que faz o cabra correr
Se ele for um cabra mole
É capaz dele tremer
E se sofrer do coração
De medo pode morrer.
Tem a cobra cascavel
Essa é a mais perigosa
Também tem salamanta
Malha roxa e cor de rosa
Jararaca e goipeba
Todas quatro venenosas.
Tem a cobra coral
Mora naquele faísco
Pra você ver ela fora
Se torna muito difícil
Se for picado por ela
Vai enfrentar sacrifício.
A preta é surucuru
Corre campo e de cipó
Essa só vive trepada
Sujeita a chuva e o sol
Se for medir o tamanho
Surucucu é maior.
Também tem a caninana
Porém se achando assanhada
Se torna um pouco agressiva
E não merece confiança
Por ser um pouco nociva.
O caçador respeitava
Urtiga e tamiarana
Mas hoje o maior respeito
É com abelha italiana
Quem for lá corre ou morre
No ferrão da africana.
Tem o inchuim de rama
Arapuá e inchú
Tem boca torta e chapel
Tem caboclo e capuchú
Tem um tal de cara olho
Eu só não vi uruçu.
Sabe o tirador de mel
Lá também não tira
Porque a italiana
Matou até o curupira
Da rajada à amarela
Do mosquito à jandaíra.
Lá tem gavião turuna
Gavião e o rapina
Tem acauã e mãe da lua
Tem pintacilgo e campina
Tem craúna e caboré
Concriz, canário e cravina.
Tem azulão e golinha
Bigode tem pouco mas tem
Cancão e mané de barro
Pica pau e vem vem
Juriti e asa branca
E casaca que canta bem.
Tem um chamado coruja
Dorme no toco do pau
Tem outro que voa de noite
Chamado de bacurau
E corujão da boca mole
De noite faz ba ba bal.
Vi lá um maracanã
E um bando de verdelinho
Depois vi um papagaio
Passou voando sozinho
Certamente o seu parceiro
Ficou chocando no ninho.
Não falei do beija flor
Porém tem em quantidade
Um geólogo disse assim
É uma realidade
Passarinho daquela espécie
Tem duzentas qualidades.
Veja bem caro leitor
Poeta bom não emperra
Tá faltando a siriema
Que é ave da mesma terra
De longe eu ouço o seu grito
Cantando no pé da serra.
No monte tem duas fontes
Uma embaixo e outra encima
a de baixo é salgada
Mas a outra é doce e fina
Eu tomei água de lá
E achei boa e cristalina.
Quem sobe até lá na fonte
Fica abismado demais
Vê logo que as mãos divina
Fez e deixou os sinais
Por isso é que eu admiro
O que a natureza faz.
Pedra preta, escura e branca
Tem pedra de todo estilo
Pedra de vários tamanhos
Eu digo e não me humilho
Pedra de cinquenta gramas
E pedra de oitenta mil quilos.
Aonde mora o mocó
Dentro daquela pedreira
O preá e punaré
Também naquelas trincheiras
Insetos de todas as espécies
Do rato à caranguejeira...
Nota do Blog Cícero Lajes - Fragmento do poema: História do Cabugi, retirado do livro Vida e Obra do Poeta Antônio Cruz
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