segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CRÔNICA - JOHN ALEX CHAVIER

UMA NOITE AFORTUNADA OU A AFINADÍSSIMA JANE DUBOC 

A primeira vez em que me lembro de haver visto Jane Duboc, eu tinha lá meus 13 anos. Era um tempo que eu era mais criança que propriamente pré-adolescente. A rede Globo repetia muitas vezes um trecho da participação da nossa cantora na Arca de Noé 2. Era difícil não se apaixonar por alguém cuja voz se constitui numa das mais belas da nossa MPB – a afinadíssima Jane Duboc. Desde então, sigo aqui e acolá os passos dela na produção musical. Verdade que é raro encontrá-la na mídia, as preciosidades a gente não encontra dando sopa nas esquinas da vida, pelo menos nem sempre! E encontrar Jane Duboc é uma dessas raridades, assim como encontrar pérolas nas superfícies abissais do imenso oceano. 

Se eu pudesse nascer de novo queria essa mesma história para contar, essa mesma paixão, esse mesmo sentimento de eternidade, a mesma noite afortunada... E continuar tendo ouvidos para sentir cada pedacinho de interpretação dela. Queria ter também conhecido uma amiga que tenho que sonhava em ser Jane Duboc. E ter essa amiga que compartilha sentimentos raros também por Jane Duboc. Por sinal, um dos CDs que tenho dela, foi presente desta minha amiga. Sim, queria tudo da mesma forma, porque tudo foi perfeito se existe perfeição entre os mortais! Queria meu amigo lá tirando as fotos. O encontro com uma senhora que falava tudo menos português e que se referia à música “Bordado”, interpretada por Jane Duboc. No entanto, se ela falasse pelo menos inglês, italiano ou espanhol, talvez eu compreendesse alguma coisa além do nome da música, mas aquilo não era nem Alemão, acho que era alguma língua oriental, bem distante da minha mediocridade ocidental. Bem, eu queria tudo do mesmo jeito, a mesma palavra, o mesmo ponto, a mesma vírgula, mesmo o meu não entendimento da língua que aquela mulher falava. 

As raridades, geralmente ou quase sempre são bem mais difíceis de alguma forma enigmática de se conseguir. E a nossa cantora parece ser essa joia de brilho raro. Bem, mas aconteceu de encontrá-la pessoalmente. Deixei um fim de semana a adorável e fascinante Bananeiras, no Estado da Paraíba, em direção à Natal, a Cidade do Sol, para ver e ouvir a adorável e fascinante Jane Duboc, que se apresentaria no sábado, 21 de abril, do ano corrente. Não era um show em que se apresentaria solo. Esse na realidade era o meu verdadeiro desejo. Estavam Roberto Menescal, figura ilustre da famosa Bossa Nova; Danilo Caimmy, com aquela voz gostosa de se ouvir; e, Miele que, além de comediante, é diretor dos artistas da Bossa, consegue cantar alguma coisa e bem melhor que o desafinado que hora escreve. Comemoravam 50 anos de Bossa Nova. 

Juntei todos os CDs que possuo de Jane Duboc. Confesso que nem lembrei que tinha raridades da família Caymmi, mas o brilho da minha musa ofuscava qualquer outra luminosidade que pudesse aparecer naquela noite. O Teatro Riachuelo era todo jogo de luzes, vários tons de luminosidade, muitas câmeras filmando, na tentativa de eternizar o momento raro. O teatro estava cheio, não completamente lotado, mas cheio. E ver e ouvir Jane Duboc se transformava em cada participação dela algo incomensurável para traduzir em palavras de qualquer língua porque a linguagem do sensível é exasperadamente difícil de se fazer explicar racionalmente. É muito difícil, senão impossível objetivar sentimentos ditos raros. Emoção e razão não se comunicam muito bem, ao inverso, digladiam-se. Sei que me sentia aquele menino que ganha o chocolate quando o deseja. Ela estava com um vestido semelhante ao que estampa a capa do CD Canção da Espera, em que interpreta músicas de ninguém menos que Egberto Gismonti. Neste mesmo CD tem participação especial do filho Jay Vaquer, Olivia Byington, Pery Ribeiro e Hamilton de Holanda. Nele, ela interpreta a tão bela Mais Que a Paixão e uma que também gosto, de conotação explicitamente social, Ano Zero, esta última com o filho, cantor e compositor. 

Desejava todo tempo que a apresentação não terminasse. Era mesmo um raro momento de eternidade para mim. No entanto, tudo que é bom parece acabar mais rápido, parece ser acometido pela onda da brevidade, deixando a gente na vontade. Tendo consciência desse fato. Estava destemido a, mesmo que fosse um intruso, conseguir que ela autografasse senão todos os meus CDs, pelo menos um deles. Não esperava a hora de ver e tocar pra ter a certeza que se existe de fato. Bem, infelizmente ou não, o espetáculo acabou e eu corri para fila, na esperança – que dizem que é a última que morre – de ter um momento, mesmo que fosse um átimo de segundo com a afortunada na voz... Se a espera foi demorada, valeu a pena, valeu demais, valeu demasiadamente. Ela recebeu antes os seus parentes e amigos de Natal e eu, como era apenas fã, tive foi que esperar mesmo. Mas, se há esperas que não valem apena, aaah, essa espera se valeu, valeu todos os anos de espera, até mesmo porque fui recebido de forma especial. Foi a própria Canção da Espera, do CD citado de mesmo nome: “Há muito tempo te espero/ Já te adivinho a chegada / Em sonhos e pesadelos/ O meu coração tirano/ Afirma que tu não tardas.” Há algumas esperas que valem mais que dinheiro ou ouro guardados em baú. Assim, sem titubear, foi minha espera: “Sabe, às vezes me acho romântico demais!” Depois de um tempo... Enfim, chegou a minha vez. Ela que estava em pé, rapidamente recebendo os outros, quando comecei a falar do tempo que lhe seguia, do meu afeto, admiração e respeito... E mostrei a minha coleção de CDs, ela disse: “Não, tenho que sentar!” Fiquei muito feliz e demasiadamente comovido porque ela também se mostrou emocionada nos trejeitos e olhares, recebi beijos e abraços, exatamente três abraços tão amáveis. (A camisa verde que usava no dia ainda está por lavar!) Naquele momento, talvez por ironia, todos os outros artistas ficaram apagados, estive ao lado de todos eles, a um palmo de Mieli, ao lado de Roberto Menescal e via Danilo sentado conversando com um e outro. Mas, desculpe-me cada um deles, pois só queria saber de Jane Duboc. Enquanto isso a fila atrás de mim, esperava e também ficavam loucos pelos meus CDs, mas tinham que esperar e esperaram um bocado, pois eu dizia todas as palavras doces que vinham dos meus sentimentos. Depois? Depois eu me perguntei: “Por que não tirei uma foto com Roberto Menescal e Danilo Caimmy?” Porque também os admiro. E a única resposta que vinha e a mais certeira era: se houvesse outra oportunidade, qualquer outra, faria a mesma coisa para passar todo o tempo com a afinadíssima Jane Duboc, aquela que tem a voz peculiar em beleza e que também me fez ser parte do que sou. Devemos valorizar mais o que é nosso, apurarmos a nossa sensibilidade para aprendermos separar o joio do trigo, sem titubear. Oxalá, assim o seja para nós, brasileiros! Oxalá, Jesus, que tudo vê e sabe, proteja os passos da minha musa e que a faça permanecer tão doce e meiga, meu Deus, e afinadíssima!!

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