terça-feira, 28 de julho de 2015

ENTREVISTA COM O PALHAÇO CHAVEIRINHO DO CIRCO KAOMA DA BAHIA

 Cícero Lajes – Como foi que você entrou nessa vida circense?

Chaveirinho – Olha é o seguinte, essa vida da gente de circo vem de tradição, de família para família. Então a minha mãe, o pai dela era dono de um circo, então meu pai foi trabalhar no circo do pai dela né... daí se conheceram, rolou aquele clima, se casaram os dois aí foram colocar um circo para eles próprios. Entendeu? Aí a gente já é a terceira geração já de circo. Desde os cinco anos de idade me criei no circo e assim vai passando de pai para filho, depois neto e assim vai aí vai, de geração pra geração.

Cícero Lajes – Quem administra o circo é você?

Chaveirinho – Não quem administra é meu pai. Ele ainda tá na ativa aí né, então até quando ele disser: meu filho chega agora é sua vez né... aí a gente segue o barco pra frente.

Cícero Lajes - É uma vida cigana né? Não tem como não ser...

Chaveirinho – Então, a gente não tem outra vida né... nasci no circo e pretendo morrer.

Cícero Lajes – Hoje o circo está na televisão e na Internet, de certa forma está mais difícil a novidade. Isso ajuda ou atrapalha?

Chaveirinho – Olhe o circo supera tudo. O circo é ao vivo, tem o improviso, é um teatro, tem aquela emoção que a televisão e a Internet não transmitem, entendeu? Então enquanto existir uma criança o circo jamais morrerá.

Cícero Lajes – O adulto que vem para o circo é de certa forma uma criança crescida?

Chaveirinho – É, e agente não sabe se é o adulto que traz a criança ou se é a criança que trás o adulto, mas percebemos que o adulto são os que mais se divertem. Então é isso aí, uma coisa traz a outra.

Cícero Lajes – Em todas as cidades vocês são bem recebidos?

Chaveirinho – Olha, geralmente a gente é bem acolhido, mas tem cidade que tá naquela crise né... mas no geral a gente é  bem acolhido. Aqui na região mesmo, nessa cidade a gente esteve em 2010 e fomos bem acolhidos pelo povo, não só nessa segunda vez como na primeira. Infelizmente naquela vez a gente teve que desabar mais cedo porque o vento rasgou nossa lona, então a gente agora voltou com uma melhor estrutura para dar mais conforto ao público que é um público educado que sabe receber  quem vem de fora. Mas graças a Deus a gente foi bem recebido.
 
Cícero Lajes – Já presenciei alguns circos que não conseguiram formar um público e tiveram que cancelar alguns espetáculos. Isso já aconteceu com o Kaoma?

Chaveirinho – Olha, isso é comum, pelo poder aquisitivo de alguns lugares e o momento, mas a Companhia do circo tem o seguinte: se tiver duas pessoas a gente apresenta, sabe por que? Porque a gente tem amor a arte. Você veio e não tem nada haver com os problemas, então o importante é apresentar né isso?

Cícero Lajes – Eu considero que para o sucesso do circo, 80% depende da qualidade do palhaço. E o palhaço, ele já nasce com o dom ou se aprende na vivência?

Chaveirinho – Rapaz, é porque o palhaço é a arte mais difícil. Você vem pro circo com o problema do dia a dia e fazer o povo rir é difícil.

Cícero Lajes – E o Globo da Morte tu aprendeu com quantos anos?

Chaveirinho – Desde os 10, 11 anos a gente faz esse cambalacho aí, inclusive minha irmã que tem 16 anos. Em breve estaremos colocando o garoto mais jovem do Brasil a andar no Globo da morte.

Cícero Lajes – Vocês usavam animais?

Chaveirinho -  A gente tinha uns animais mas teve aquele problema com o IBAMA... e eu também sou contra utilizar os animais porque eles não queriam estar ali né? Algumas pessoas também mechem e acabam estressando os bichos.

Cícero Lajes – Parece que a galera que senta nas cadeiras é mais reservado, enquanto os da arquibancada é mais inflamada...

Chaveirinho – É porque a galera da arquibancada é quem faz a animação né? A galera da bagunça (no bom sentido), vamos agitar! Vamos animar! Não é que sejam mal educados não, é porque gostam de animar. Então isso aí é bom, você ter vários tipos de público.
  
Cícero Lajes – Algum cara que você chamou no picadeiro já o deixou em saia justa por ser bem desenrolado?

Chaveirinho – Já, já. Mas no final das contas quem sai perdendo é o cara  porque o palhaço tem o microfone né?

Cícero Lajes – Vocês têm contato com outros circos?

Chaveirinho – Tem, tem. Fuxiquinho é meu primo, o pai dele tinha um circo e agora ele tem o dele. Então a gente conhece muito essa galera de circo. Quando a gente tá numa região e sabe que eles estão também, a gente vai lá visitar.

Cícero Lajes – Acontece também de pessoas das cidades por onde vocês passam se encantar pelo circo e ir embora com ele...

Chaveirinho – É acontece (risos). Tem mulher que se apaixona pelo palhaço, tem cara da cidade que se apaixona pelas dançarinas. E assim vai (risos). É amor né? É paixão a primeira vista (risos).

Cícero Lajes – Vocês sofrem preconceito?

Chaveirinho – Olha, a gente sofre. Algumas pessoas das cidades pensam: chegaram os ladrões, desordeiros. E a gente entende, as vezes os circos empregam um pessoal que já tem aprontado muito e acabam entrando na vida circense pois nunca passam muito tempo em um só lugar.  Nosso circo é de família, mas acaba pagando por outros também. Mas não todos, a maioria faz até amizade.


Um comentário:

  1. Parabéns Cícero pela inciativa de nos mostrar um pouco mais sobre a realidades desses artistas que só conhecemos quando eles estão no picadeiro!

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