quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

LAJES PERDE SEU CONTERRÂNEO ILUSTRE: JOSÉ RODRIGUES VIANA (BELUCA, O HOMÃO)

Lajes perdeu uma grande figura de seu patrimônio cultural humano. Quem nunca proferiu ou ouviu falar a expressão: "pera Beluca!"? Trata-se de uma frase corriqueira de nosso cotidiano sempre que alguém conta uma verdade duvidosa ou uma mentira cabulosa. As anedotas do agora saudoso Beluca renderiam um livro e até mesmo filme, e o que mais impressionava era a seriedade como o mesmo as contava: sem pestanejar, sem dar uma risada, sem mesmo se questionar se o interlocutor acreditaria no mesmo.

Lembro que meu pai trabalhou com esse patrimônio na década de 90 e, depois em 2002 na produção de carvão vegetal. Beluca podia ter qualquer defeito, mas todo trabalhador não se queixava de uma coisa: não ter recebido nem o dinheiro da feira, pois quando ele estava sem o dinheiro no momento autorizava um vale compras na mercearia em que ele tinha crédito, depois ele acertava tudo. Lembro-me que uma vez meu pai chegou lá num sábado para receber o ordenado semanal, e ele falou: - "Manel, dinheiro tem e muito, mas tá tudo nos bancos, só falta liberar, você quer um vale até sábado? Na quinzena a gente se acerta." Na década de 90 não se recusava uma proposta dessas.

Me arrependo: há mais ou menos 2 meses encontrei Beluca na Rua da Beira com seu traje característico: uma calça social, camisa de botões de manga longas, óculos escuro e chapéu. Eu estava com uma câmera na mão e pensei fotografá-lo, mas tive receio que o mesmo não gostasse. Ao passar por mim ele me cumprimentou, acredito que seria o registro fotográfico dele vivo mais recente, e eu tinha ciência de que não talvez não tivesse mais uma oportunidade dessas. Não seria fácil convencê-lo a deixar-me postar sua foto na Internet, meu amigo e também historiador Laelson Lourenço tentou entrevistá-lo e lançar o resultado da conversa em seu blog mas Beluca foi arisco, falou que já gastou dinheiro de mais com advogado para tirar seu nome dessa tal de Internet. 

Deixo aqui parte de um cordel que fiz sobre nossos patrimônios culturais, o qual teve muita inspiração no grande Beluca, o "Homão."

SE LAJES FOSSE UM CORDEL (CÍCERO LAJES)

História encabulosa
De procedência duvidosa
É o que não falta por aqui
Nem pessoas pra mentir.

Por aqui tem muita lenda
Muito mito e conversa
Tem quixabeira do padre
Tem feiticeiro na serra.

Tem princesa no Cabugi
Papangu e lobisomem
Homem que vira lobo
E lobo que vira homem.

Defunto que pede carona
Tem olhos de nunca mais
Homem que briga com onça
E homem que mente demais

No pico do Cabugi
Tinha um homem de bicicleta
De longe lá vinha chuva
Mas ele desceu de pressa
Cumprimentou a princesa
Mas não queria conversa

Pois quando chegou em casa
Pisou o pé na calçada
Abriu a porta ligeiro
Ele viu que aquela chuva
Que chegou sem fazer curva
Molhou só o bagageiro.

Por aqui tem gente contente
Tem causos acontecidos
Pobre que de repente
Fica bebo, brabo e rico
Isso é Lajes do Cabugi
Terra de lendas e mitos.

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