sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A SECA COMO ELA É: SOFRIMENTO DOS PEQUENOS PRODUTORES

Na foto abaixo meu tio, Antônio Eleutério, segura cabeça de seu garrote, falecido em decorrência da grande seca cíclica que se iniciou em 2011.
Muito se fala na seca e na "indústria da seca". Independente do caos social e jogo político que há por trás do fenômeno natural, há aqueles que sofrem periodicamente com as estiagens, eles pertencem a infantaria da agricultura nordestina: os pequenos produtores - agricultores e criadores de pequenos rebanhos de gado, caprino e ovino - Eles que são a razão da decretação do estado de calamidade pela seca e nem sempre vêem as ações chegarem da forma como deveria para diminuir seu sofrimento.

Meu tio Antônio Eleutério, morador da zona rural de Santana do Matos é um exemplo desse retrato que molda-se nas paisagens do semiárido nordestino. Um homem que desde cedo lhe faltou provimentos, a começar pela escola, se quisesse estudar tinha que viajar léguas a pé ou em um jumento e para ter direito a apenas as séries iniciais, naquele tempo muitos optavam ou se viam forçados a ajudarem os pais na agricultura para que não morressem de fome, e assim meu tio e muitos de sues irmãos seguiram esse caminho.

A seca é notícia no semi árido desde a época da colonização, e até hoje o homem da caatinga ainda não se adequou a convivência com esta da forma como deveria, pois todo ano parecem ser pegos de surpresa esperando muitas vezes pelas chuvas que não vêm, ou que são insuficientes. Nas cidades onde o poder público estar mais próximo dos agricultores cavando cacimbas, desassoreando açudes, instalando moinhos de água, dessalinizadores, prolongando adutoras... o sofrimento é amenizado, mas onde estas ações não chegam e nem seus  agentes têm recursos para tal, o sofrimento é triplicado. Por sorte, qualquer chuvinha faz brotar o pasto e o xique xique existe em abundância nessas áreas, porém o processo de cortá-lo, queimá-lo e transportá-lo  é uma tarefa árdua que consome o físico e o ânimo do agricultor.

Para não ser injusto algumas medidas municipais e de âmbito federal até tem segurado o homem do campo um pouco mais em suas terras: operação carro pipa e o bolsa família tem conseguido pelo menos com que o alimento necessário esteja na mesa do agricultor. Mas queremos soluções mais enérgicas como a de Israel que retira o sal da água do mar e a torna potável, e que quando essa tecnologia chegue ao Brasil não seja privilégio apenas dos ricos, infelizmente não acredito em Papai Noel.
Na foto acima meu tio caminha em uma serroteira por onde o gado costuma passar para subir a serra em busca do alimento que se faz mais escasso nas terras mais planas; abaixo vemos restos de material usado na agricultura, especialmente nos tempos áureos do algodão - o ouro branco - nas terras de Walter Olímpio, Sítio Rodeador, Santana do Matos RN.
Na foto abaixo observamos uma cena clássica na caatinga, o pasto que brota nas primeiras chuvas e o gado volta a ganhar peso.
Na foto abaixo vemos uma barragem dos anos 70 ou 80 construída por meu avô, Miguel Eleutério, nas terras de Walter Olímpio na Serra dos Caboclos, Santana do Matos RN. Está bastante assoreada portanto não segura muita água quando o rio coloca cheias.

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