O bom de ler a biografia de quem viveu muito e tem boa memória, é nela, poder ter informações de outros temas, assuntos, momentos históricos e muito mais. Narrando sua biografia em poesia, Antônio Cruz nos dar nome de contemporâneos seus, anos de seca, o transporte ferroviário, a construção do açude de Lajinha, a Banda de Música de Lajes, entre outras informações de âmbito local, que vocês podem conferir abaixo.
O COMEÇO DE UMA HISTÓRIA
Foi ali em Dois Irmãos
Que esse poeta nasceu
Sou da família Fernandes
Misturado com Abreu
Pra versejar poesia
Foi um dom que Deus me deu.
Nasci nessa região
Central pertinho do Oeste
Onde nós brasileiros
Chamamos Norte-Nordeste
Aonde a brisa marítima
Encontra a brisa terrestre.
Meu nome é Antônio Cruz
Poeta de qualidade
Vim pra Lajes quando era vila
Estava em prosperidade
Já fazem 82 anos
Que cheguei nessa cidade.
A VIDA DO POETA ANTÔNIO CRUZ
Veja bem caro leitor
Pra poeta eu fui nascido
Vim ao mundo versejar
Fazer meus versos polidos
Com rimas e orações
Retos, pesados e medidos.
Na Fazenda Dois Irmãos
Esse poeta nasceu
No dia 13 de junho
Quando isso aconteceu
Pra versejar poesia
Foi um dom que Deus me deu.
No ano de dezenove
Mamãe me deu essa luz
Seu nome Maria Antônia
Meu pai Vicente da Cruz
Poeta versejador
Por isso é que me dispus.
Vim morar no Alto Preto
No ano de vinte e um
Meu pai tirou um roçado
Que sempre é pelo comum
Para plantar algodão
Milho feijão e jerimum.
No ano de vinte e dois
Morreu Joaquim Teixeira
Era o patrão do meu pai
Aí rasgou-se a esteira
Fomos pra Morada Nova
Fica na mesma Ribeira.
Arranjou outro roçado
Om seu Duquesa de Melo
Mas não passou nenhum ano
Enfrentando outro duelo
Comprou na vila uma casa
E foi buscar seus bruguelos.
Viemos morar na vila
Que estava em prosperidade
Já tinha um bom movimento
Porém não era cidade
No dia três de dezembro
Tive essa felicidade.
Chegamos em Lajes em outubro
De vinte e três eu me lembro
Passando vinte e dois dias
Chegou o mês de novembro
Lajes passou à cidade
No dia três de dezembro.
É Lajes do Cabugi
É aqui meu natural
A terra do xiquexique
Do algodão e do cal
Onde vive tranquilo
No convívio social.
No ano de vinte e oito
Foi seco aqui no Nordeste
Meu pai juntou a família
E foi morar no Agreste
No lugar por nome Utinga
Bem pertinho da Gredueste.
Em vinte e nove choveu
Molhou nosso terrão
Foi quando o velho meu avô
Mandou uma condução
Apanhar nossa família
De volta para o sertão.
Vim trabalhar mais meu pai
Sofrendo na agricultura
Muitas vezes passando o dia
Com um quartinho de rapadura
Vinha comer o feijão
De noite até sem mistura.
Em trinta o ano foi seco
Aqui no nosso torrão
Fui trabalhar na Lajinha
Pertinho do Gavião
Mas o serviço parou
Eu fui pra tanque do chão.
Trabalhar mais meu irmão
Na terceira rodovia
Construída nesse Estado
Era o serviço que havia
De Currais Novos à Angicos
Fui até Santa Maria.
De trinta até trinta e três
Foi de cortar coração
Foi o maior desmantelo
Do litoral ao sertão
O gado movia de fome
Sem ter outra solução.
Foram três anos de seca
Já escrito no meu livro
De trinta até trinta e três
Isso foi consecutivo
Eu só não morri de fome
Porque me fiz de ativo
Veio chover em trinta e três
Se a verdade não me mente
Mas só no mês de abril
E não foi suficiente
Porém em maio não choveu
Perde-se toda semente.
Choveu muito em trinta e quatro
Foi um inverno pesado
Foram tão grandes as enchentes
Que destruíram os roçados
Quem já tinha o que comer
Ficou com fome coitado.
Em trinta e cinco choveu
Porém não foi abundante
Mas houve uma boa safra
Eu achei interessante
Além de boa sadia
Isso foi muito importante.
No ano de trinta e sete
Eu comprei um cavaquinho
Instrumento carioca
Feito com muito carinho
Tomei dinheiro emprestado
E acabei comprando o pinho.
Comecei tocar forró
Ainda muito mocinho
Zé Beradeiro no fole
E eu no meu cavaquinho
Padeiro no violão
Muá no seu pandeirinho.
Batendo nele e cantando
Forró e samba canção
E xote de sete rodas
Era essa a tradição
Morreu cantando e bebendo
Sem ter outra solução.
Dos quatro tem vivo eu
Devido a perseverança
Eu dei fé do desmantelo
Mesmo quando era criança
Pois quem se envolve com drogas
Morre logo na infância.
Morreu José Bandeira
Muá já tinha morrido
Morreu Manoel Padeiro
Um violão colorido
Por onde ele tocava
Pelo povo era aplaudido.
Eu fui tocar bandolim
Comprado lá na Paulista
Logo formei um conjunto
Eu e mais três guitarristas
Leôncio Cruz , meu irmão
Arnaldo e Chico Catita.
Tocando forró e baile
Aonde o povo exigia
Nas festas carnavalescas
Tocando todos os três dias
Pelas ruas da cidade
Era o que o povo queria.
Durante as noites nos bailes
Com muita perseverança
Na União Caixeral
Ou naqueles salões de danças
Quando os festejos das festas
Era serpentina e lanças.
Mas hoje a coisa mudou
Não usam mais nenhum talco
Pulando no meio da praça
Parecem até uns macacos
Quando os festejos das festas
É só suor e sovaco.
Desse conjunto tocante
Só tem vivo Antônio Cruz
Porque não bebeu cachaça
Foi Deus quem me deu a luz
Só tem a agradecer
Muito obrigado Jesus.
No ano quarenta e dois
Fui pra outra rodovia
De Natal pra Baixa Verde
Chamada de espeturia
Passei lá mais de seis meses
Porque em Lajes não chovia.
Depois fui transportar lenha
Do pai do Padre Amorim
No trem daqui pra Natal
Passando por Ceará Mirim
Na época da construção
Do campo de Parnamirim.
Depois deixei o emprego
Por ganhar pouco dinheiro
Fui trabalhar numa tenda
Oficina de ferreiro
Mas era grande a quentura
Fui estudar marceneiro.
Depois eu fui pra Natal
Por lá passei muitos dias
Aprendendo a fazer móveis
Era o que eu mais preferia
E vim fabricar em Lajes
Era isso o que eu queria.
Chegando em Lajes comecei
E com isso eu fui me mantendo
O tempo foi avançando
E a freguesia crescendo
E eu na minha oficina
Fazendo móveis e vendendo.
Depois fui estudar música
Ainda na minha infância
Porque eu tinha vontade
Desde o tempo de criança
E terminei esse curso
Com muita perseverança.
Bati compasso três meses
Com muito comportamento
Foi quando o Mestre da banda
Compreendeu meu talento
Foi na estante e tirou
E me entregou um instrumento.
Toquei mais de cinco anos
Na banda consecutivo
O resto dos componentes
Gostavam do aperitivo
Eu nunca bebi cachaça
Por isso ainda sou vivo.
O primeiro que morreu
Foi Leôncio Cruz, bem mocinho
O resto dos componentes
Seguiram o mesmo caminho
Só tem vivo Antônio da Cruz
Chico Barbosa e Bodinho.
Também tem José Reinaldo
E foi um bom componente
Tocando o seu clarinete
Era muito inteligente
Mas depois que foi prefeito
Tornou-se um grande eminente.
Morreu Manoel Martins
Senti muito a sua morte
Morreu Bibi Agnelo
Esse teve a mesma sorte
E Manoel Avuete
Que foi no mesmo transporte.
Morreu Zé Feliciano
Depois Raimundo Quirino
E era um bom componente
Apesar de ser menino
Soprava trompa na banda
Junto a Francisco Tunino.
João Noga e José Rodrigues
Morreram na capital
Severino de Luís Boa
Também morreu em Natal
E Galo Cristino Morre
De um acidente fatal.
Viajando pelo trem
Não sei o destino seu
Na plataforma do carro
A curva não percebeu
Bateu no ferro a ponta
Caiu no chão e morreu.
Também morreu meu compadre
A quem eu dou tantos vivas
De tocar saxofone
Tomou essa alternativa
De vulgo Zeca Zabé
José Pereira da Silva.
Está faltando Antônio Siqueira
Desse eu não tenho notícia
Me contaram que ele era
Oficial de Justiça
Não sei se ele morreu
Ou se entrou pra polícia.
Ainda tem Edson da Câmara
Era grande amigo meu
Também tocava na banda
Não sei se ele morreu
Foi morar na Amazônia
E pra lá desapareceu.
Até os mestres da banda
Esses também já morreram
Rodolfo Rodopiando
Esse aí morreu primeiro
E Odilon Cavalcante
Morreu no Rio de Janeiro.
Veio o terceiro regente
Vindo lá da capital
Era o regente da banda
Da polícia de Natal
Veio pra Lajes também morreu
Foi Tenente Juvenal.
Depois veio o Mestre Jacildo
Já foi o quarto regente
Porém foi por poucos dias
Se a verdade não me mente
Daí a banda acabou-se
Foi definitivamente.
Fiquei sozinho sem tocar
Porque morreu o meu irmão
Vendi o meu bandolim
Cavaquinho e violão
Porque uma andorinha só
Não pode fazer verão.
Vendi meu saxofone
Dei fim ao meu clarinete
Tocava nele na banda
Fazendo lindos duetes
Junto ao meu irmão
Bodinho e Manoel Avuete.
Compus a música e toquei
Com ela eu fazia a festa
As minhas composições
Foram músicas prediletas
Fiz isso porque sou músico
Compositor e poeta.
Toquei em cinco instrumento
Porém hoje não toco mais
O que fiz quando era jovem
Hoje me sinto incapaz
Que o tempo me roubou tudo
De uma maneira sagaz.
Nos clubes carnavalescos
Quando eu tinha condições
Tocava e apresentava
As minhas composições
Muitas vezes saí do clube
Nos braços dos foliões.
Nos campos de futebol
Alguém me jogava flores
Na trave pegando bola
Incentivando os jogadores
Muitas vezes saí do campo
Nos braços dos torcedores.
[...]
Deus mostrou-me outra jovem
Mocinha mais do que ela
Além de nova disposta
Bonita charmosa e bela
Disse que casava comigo
E eu me casei cm ela.
Construímos uma família
Está escrito no meu livro
Nasceram dezenove filhos
Porém só tem onze vivos
Os outros são filhos da outra
E Geraldo é filho adotivo.
Tenho filho caminhoneiro
Temos filhos bem empregados
Em boas repartições
Que têm dentro do Estado
Tenho filho professor
E tenho netos advogados.
Tenho uma filha e dois netos
Cursando a faculdade
Isso é mais um privilégio
E mais oportunidade
Só mesmo vindo do céu
Tamanha felicidade.
Eu agradeço a Deus
Por ser ele o criador
E agradeço a Jesus
Por se nosso salvador
E ao Divino Espírito Santo
Por se nosso protetor.
Eu escrevi essa história
Há muito tempo eu previa
Escrita pelo meu punho
É minha caligrafia
É essa a minha versão
Ou minha biografia.
Livro: Vida e Obra do Poeta Antônio Cruz
Autor: Antônio Cruz
Edição: Casa do Cordel
Cícero, este poeta é vivo? Preciso saber, Joaquim Teixeira que era o patrão do Pai dele é meu ancestral e preciso saber quem Joaquim foi como pessoa. Qualquer coisa fale comigo pelo email ou whatsapp.
ResponderExcluirQuem fala é o Luiz Felipe que você fez umas fotos da galeria da prefeitura.
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