segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Antônio Cruz Por Ele Mesmo

O bom de ler a biografia de quem viveu muito e tem boa memória, é nela, poder ter informações de outros temas, assuntos, momentos históricos e muito mais. Narrando sua biografia em poesia, Antônio Cruz nos dar nome de contemporâneos seus, anos de seca, o transporte ferroviário, a construção do açude de Lajinha, a Banda de Música de Lajes, entre outras informações de âmbito local, que vocês podem conferir abaixo.


O COMEÇO DE UMA HISTÓRIA


Foi ali em Dois Irmãos

Que esse poeta nasceu

Sou da família Fernandes

Misturado com Abreu

Pra versejar poesia

Foi um dom que Deus me deu.


Nasci nessa região

Central pertinho do Oeste

Onde nós brasileiros

Chamamos Norte-Nordeste

Aonde a brisa marítima

Encontra a brisa terrestre.


Meu nome é Antônio Cruz

Poeta de qualidade

Vim pra Lajes quando era vila

Estava em prosperidade

Já fazem 82 anos

Que cheguei nessa cidade.



A VIDA DO POETA ANTÔNIO CRUZ


Veja bem caro leitor

Pra poeta eu fui nascido

Vim ao mundo versejar

Fazer meus versos polidos

Com rimas e orações

Retos, pesados e medidos.


Na Fazenda Dois Irmãos

Esse poeta nasceu

No dia 13 de junho

Quando isso aconteceu

Pra versejar poesia

Foi um dom que Deus me deu.


No ano de dezenove

Mamãe me deu essa luz

Seu nome Maria Antônia

Meu pai Vicente da Cruz

Poeta versejador

Por isso é que me dispus.


Vim morar no Alto Preto

No ano de vinte e um

Meu pai tirou um roçado

Que sempre é pelo comum

Para plantar algodão

Milho feijão e jerimum.


No ano de vinte e dois

Morreu Joaquim Teixeira

Era o patrão do meu pai

Aí rasgou-se a esteira

Fomos pra Morada Nova

Fica na mesma Ribeira.


Arranjou outro roçado

Om seu Duquesa de Melo

Mas não passou nenhum ano

Enfrentando outro duelo

Comprou na vila uma casa

E foi buscar seus bruguelos.


Viemos morar na vila

Que estava em prosperidade

Já tinha um bom movimento

Porém não era cidade

No dia três de dezembro

Tive essa felicidade.


Chegamos em Lajes em outubro

De vinte e três eu me lembro

Passando vinte e dois dias

Chegou o mês de novembro

Lajes passou à cidade

No dia três de dezembro.


É Lajes do Cabugi

É aqui meu natural

A terra do xiquexique

Do algodão e do cal

Onde vive tranquilo

No convívio social.


No ano de vinte e oito

Foi seco aqui no Nordeste

Meu pai juntou a família

E foi morar no Agreste

No lugar por nome Utinga

Bem pertinho da Gredueste.


Em vinte e nove choveu

Molhou nosso terrão

Foi quando o velho meu avô

Mandou uma condução

Apanhar nossa família

De volta para o sertão.


Vim trabalhar mais meu pai

Sofrendo na agricultura

Muitas vezes passando o dia

Com um quartinho de rapadura

Vinha comer o feijão

De noite até sem mistura.


Em trinta o ano foi seco

Aqui no nosso torrão

Fui trabalhar na Lajinha

Pertinho do Gavião

Mas o serviço parou

Eu fui pra tanque do chão.


Trabalhar mais meu irmão

Na terceira rodovia

Construída nesse Estado

Era o serviço que havia

De Currais Novos à Angicos

Fui até Santa Maria.


De trinta até trinta e três

Foi de cortar coração

Foi o maior desmantelo

Do litoral ao sertão

O gado movia de fome

Sem ter outra solução.


Foram três anos de seca

Já escrito no meu livro

De trinta até trinta e três

Isso foi consecutivo

Eu só não morri de fome

Porque me fiz de ativo


Veio chover em trinta e três

Se a verdade não me mente

Mas só no mês de abril

E não foi suficiente

Porém em maio não choveu

Perde-se toda semente.


Choveu muito em trinta e quatro

Foi um inverno pesado

Foram tão grandes as enchentes

Que destruíram os roçados

Quem já tinha o que comer

Ficou com fome coitado.


Em trinta e cinco choveu

Porém não foi abundante

Mas houve uma boa safra

Eu achei interessante

Além de boa sadia

Isso foi muito importante.


No ano de trinta e sete

Eu comprei um cavaquinho

Instrumento carioca

Feito com muito carinho

Tomei dinheiro emprestado

E acabei comprando o pinho.


Comecei tocar forró

Ainda muito mocinho

Zé Beradeiro no fole

E eu no meu cavaquinho

Padeiro no violão

Muá no seu pandeirinho.


Batendo nele e cantando

Forró e samba canção

E xote de sete rodas

Era essa a tradição

Morreu cantando e bebendo

Sem ter outra solução.


Dos quatro tem vivo eu

Devido a perseverança

Eu dei fé do desmantelo

Mesmo quando era criança

Pois quem se envolve com drogas

Morre logo na infância.


Morreu José Bandeira

Muá já tinha morrido

Morreu Manoel Padeiro

Um violão colorido

Por onde ele tocava

Pelo povo era aplaudido.


Eu fui tocar bandolim

Comprado lá na Paulista

Logo formei um conjunto

Eu e mais três guitarristas

Leôncio Cruz , meu irmão

Arnaldo e Chico Catita.


Tocando forró e baile

Aonde o povo exigia

Nas festas carnavalescas

Tocando todos os três dias

Pelas ruas da cidade

Era o que o povo queria.


Durante as noites nos bailes

Com muita perseverança

Na União Caixeral

Ou naqueles salões de danças

Quando os festejos das festas

Era serpentina e lanças.


Mas hoje a coisa mudou

Não usam mais nenhum talco

Pulando no meio da praça

Parecem até uns macacos

Quando os festejos das festas

É só suor e sovaco.


Desse conjunto tocante

Só tem vivo Antônio Cruz

Porque não bebeu cachaça

Foi Deus quem me deu a luz

Só tem a agradecer

Muito obrigado Jesus.


No ano quarenta e dois

Fui pra outra rodovia

De Natal pra Baixa Verde

Chamada de espeturia

Passei lá mais de seis meses

Porque em Lajes não chovia.


Depois fui transportar lenha

Do pai do Padre Amorim

No trem daqui pra Natal

Passando por Ceará Mirim

Na época da construção

Do campo de Parnamirim.


Depois deixei o emprego

Por ganhar pouco dinheiro

Fui trabalhar numa tenda

Oficina de ferreiro

Mas era grande a quentura

Fui estudar marceneiro.


Depois eu fui pra Natal

Por lá passei muitos dias

Aprendendo a fazer móveis

Era o que eu mais preferia

E vim fabricar em Lajes

Era isso o que eu queria.


Chegando em Lajes comecei

E com isso eu fui me mantendo

O tempo foi avançando

E a freguesia crescendo

E eu na minha oficina

Fazendo móveis e vendendo.


Depois fui estudar música

Ainda na minha infância

Porque eu tinha vontade

Desde o tempo de criança

E terminei esse curso

Com muita perseverança.


Bati compasso três meses

Com muito comportamento

Foi quando o Mestre da banda

Compreendeu meu talento

Foi na estante e tirou

E me entregou um instrumento.


Toquei mais de cinco anos

Na banda consecutivo

O resto dos componentes

Gostavam do aperitivo

Eu nunca bebi cachaça

Por isso ainda sou vivo.


O primeiro que morreu

Foi Leôncio Cruz, bem mocinho

O resto dos componentes

Seguiram o mesmo caminho

Só tem vivo Antônio da Cruz

Chico Barbosa e Bodinho.


Também tem José Reinaldo

E foi um bom componente

Tocando o seu clarinete

Era muito inteligente

Mas depois que foi prefeito

Tornou-se um grande eminente.


Morreu Manoel Martins

Senti muito a sua morte

Morreu Bibi Agnelo

Esse teve a mesma sorte

E Manoel Avuete

Que foi no mesmo transporte.


Morreu Zé Feliciano

Depois Raimundo Quirino

E era um bom componente

Apesar de ser menino

Soprava trompa na banda

Junto a Francisco Tunino.


João Noga e José Rodrigues

Morreram na capital

Severino de Luís Boa

Também morreu em Natal

E Galo Cristino Morre

De um acidente fatal.


Viajando pelo trem

Não sei o destino seu

Na plataforma do carro

A curva não percebeu

Bateu no ferro a ponta

Caiu no chão e morreu.


Também morreu meu compadre

A quem eu dou tantos vivas

De tocar saxofone

Tomou essa alternativa

De vulgo Zeca Zabé

José Pereira da Silva.


Está faltando Antônio Siqueira

Desse eu não tenho notícia

Me contaram que ele era

Oficial de Justiça

Não sei se ele morreu

Ou se entrou pra polícia.


Ainda tem Edson da Câmara

Era grande amigo meu

Também tocava na banda

Não sei se ele morreu

Foi morar na Amazônia

E pra lá desapareceu.


Até os mestres da banda

Esses também já morreram

Rodolfo Rodopiando

Esse aí morreu primeiro

E Odilon Cavalcante

Morreu no Rio de Janeiro.


Veio o terceiro regente

Vindo lá da capital

Era o regente da banda

Da polícia de Natal

Veio pra Lajes também morreu

Foi Tenente Juvenal.


Depois veio o Mestre Jacildo

Já foi o quarto regente

Porém foi por poucos dias

Se a verdade não me mente

Daí a banda acabou-se

Foi definitivamente.


Fiquei sozinho sem tocar

Porque morreu o meu irmão

Vendi o meu bandolim

Cavaquinho e violão

Porque uma andorinha só

Não pode fazer verão.


Vendi meu saxofone

Dei fim ao meu clarinete

Tocava nele na banda

Fazendo lindos duetes

Junto ao meu irmão

Bodinho e Manoel Avuete.


Compus a música e toquei

Com ela eu fazia a festa

As minhas composições

Foram músicas prediletas

Fiz isso porque sou músico

Compositor e poeta.


Toquei em cinco instrumento

Porém hoje não toco mais

O que fiz quando era jovem

Hoje me sinto incapaz

Que o tempo me roubou tudo

De uma maneira sagaz.


Nos clubes carnavalescos

Quando eu tinha condições

Tocava e apresentava

As minhas composições

Muitas vezes saí do clube

Nos braços dos foliões.


Nos campos de futebol

Alguém me jogava flores

Na trave pegando bola

Incentivando os jogadores

Muitas vezes saí do campo

Nos braços dos torcedores.

[...]

Deus mostrou-me outra jovem

Mocinha mais do que ela

Além de nova disposta

Bonita charmosa e bela

Disse que casava comigo

E eu me casei cm ela.


Construímos uma família

Está escrito no meu livro

Nasceram dezenove filhos

Porém só tem onze vivos

Os outros são filhos da outra

E Geraldo é filho adotivo.


Tenho filho caminhoneiro

Temos filhos bem empregados

Em boas repartições

Que têm dentro do Estado

Tenho filho professor

E tenho netos advogados.


Tenho uma filha e dois netos

Cursando a faculdade

Isso é mais um privilégio

E mais oportunidade

Só mesmo vindo do céu

Tamanha felicidade.


Eu agradeço a Deus

Por ser ele o criador

E agradeço a Jesus

Por se nosso salvador

E ao Divino Espírito Santo

Por se nosso protetor.


Eu escrevi essa história

Há muito tempo eu previa

Escrita pelo meu punho

É minha caligrafia

É essa a minha versão

Ou minha biografia.


Livro: Vida e Obra do Poeta Antônio Cruz

Autor: Antônio Cruz

Edição: Casa do Cordel

2 comentários:

  1. Cícero, este poeta é vivo? Preciso saber, Joaquim Teixeira que era o patrão do Pai dele é meu ancestral e preciso saber quem Joaquim foi como pessoa. Qualquer coisa fale comigo pelo email ou whatsapp.

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  2. Quem fala é o Luiz Felipe que você fez umas fotos da galeria da prefeitura.

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